O presente tempo favorece a criação de narrativas para justificar falhas, evitar críticas, delegar culpa e isentar as consequências das próprias ações.
As redes sociais, impulsionadas por algoritmos sofisticados, amplificam essa tendência ao fornecer com recorrência conteúdos que reforçam determinadas visões de mundo, criando bolhas que confirmam crenças e habituam comportamentos.
Basta observar a quantidade de imbecis e de conteúdos que surgiram em torno do TDAH, TEA, superdotação etc.
E a cada nova demanda, nasce um mercado infinito de produtos que satisfazem desejos
O algoritmo de cada rede social distingue preferências apenas pela forma como você interage com um conteúdo. E oferece aos seus ânimos aquilo que é mais relevante — ou adequado — ao seu padrão de consumo.
Pode ser que o Instagram redes sociais conheçam seus gostos melhor que você mesmo
Seus algoritmos analisam padrões de comportamento, tempo de permanência em conteúdos, interações e até pausas na rolagem para entender suas preferências com uma precisão assombrosa.
É capaz do carrinho de compras da Shopee conhecer você melhor que seus pais, seus amigos e até mesmo melhor que seu cônjuge
O algoritmo conhece todas as versões possíveis de quem você é.
Mesmo que seja fabricada toda sorte de bobagem a cada período de tempo, a “vida comum” nunca abandonou velhos anseios: o desejo por ser amado, a atenção de quem valorizamos, a ambição por ter e possuir...
A psicanálise foi utilizada como muleta por muito tempo. Ainda é, só que menos.
Pegaram alguns escritos de Freud, retiraram o contexto, eliminaram seu entendimento e as próprias notas do Sigmund sobre os fatos narrados.
Por mais que eu não seja psicólogo ou psiquiatra, é bem capaz de ter lido Freud, Frankl, Jung e compreendido melhor que muitos terapeutas por aí.
Isso não é uma virtude ou um argumento de autoridade. Muito pelo contrário.
Apenas lanço luz sobre um ambiente pouco explorado ou propositalmente ignorado
É como se toda a obra de Freud tivesse se materializado na figura do dono da Yoki e a academia latino-americana tivesse incorporado Elize Matsunaga: picotou Freud, colocou dentro da mala das ideias mais estúpidas do seu tempo e criou palco para isso. E como o coronavírus: passou adiante.
Dizer que a infância é importante é tão óbvio quanto dizer que dois mais dois são quatro
Agora, compreenda o objetivo deste texto. Se você ficou ofendido ou minimamente incomodado com os últimos parágrafos, reflita:
Nada do passado pode ser alterado
Isso deveria ser tão óbvio quanto subir pra cima, a chuva molhar, o fogo queimar e outros pleonasmos.
Ah, não pode ser alterado, mas pode ser compreendido
Nem isso, meu amor.
O que você fará com a "compreensão" que teve sobre algo que ocorreu há anos?
Você não tem mais condições materiais de agir sobre aquilo.
Todo julgamento que possa ter foi impresso no tempo em que a ação ocorreu e se alterou com o descobrir de novas informações.
Imagine que você trabalhou em um emprego horrível.
Aguentou assédios e outras situações porque dependia do salário e não sabia se conseguiria pagar as contas novamente. Ficou ali por dois anos. Sua saúde física e mental foram desgastadas.
Aí você conseguiu um emprego melhor...
E diz: “Deveria ter me dedicado menos, talvez minha saúde estivesse melhor.”
Pode ser que sim, pode ser que não.
Mas hoje, isso só existe como um "talvez"
“Se eu pudesse voltar no tempo...”, mas você não pode!
Não existe remanejamento de consequências.
E ainda que fosse possível, qualquer alteração, ainda que mínima no passado jamais produziria no presente a consciência que você tem hoje.
Achei que Marty McFly e Dr. Brown haviam deixado isso plantado no consciente da galera
Escrevo há muitos anos uma coisa:
Você tem três opções: azul, vermelho e amarelo.
Você escolhe vermelho.
Qual foi sua escolha de fato?
Ter rejeitado azul e amarelo.
Você levará consigo: as consequências de ter rejeitado azul, de ter rejeitado amarelo, de ter escolhido vermelho e todas as outras consequências de não ter escolhido qualquer outra ação.
Você deve compreender sua história, mas sem devaneios loucos
Se insistir em lutar contra isso, contra a biologia, contra o mundo real, contra a verdade, você enlouquecerá.
Cresça hoje!
“Minha criança interior... Não tive isso na infância, agora me presenteio... O motivo de eu não amar é porque não recebi amor do meu pai.”
Foda-se! Você é um adulto!
Aquela criança não existe mais.
Suas reações diante do mundo determinam não somente a sua vida, mas a qualidade da sua existência.
Viktor Frankl diz que a vida faz sentido quando:
Você ama alguém.
Se dedica a uma causa.
Aceita um sofrimento inevitável.
Tudo isso alinhado à tríade da tragédia humana:
O sofrimento.
A culpa.
A morte.
Meu pai me abandonou por alguns anos. Ignorou, não pagou pensão. Havia vezes em que estávamos a poucos metros de distância e ele não queria contato.
Na adolescência, nutri mágoa e ódio.
Hoje, temos uma relação tranquila. Não nos vemos muito, mas estamos sempre em contato.
Tenho 27 anos. Acha que vou ruminar um fato que não pode ser alterado?
A saudade que senti jamais será "desaudada" — desculpem o neologismo extremo
Não exigirei desculpas nem explicações. O que eu faria com essa informação hoje?
Vivo minha vida e não toco no assunto. Lembro dos bons momentos. Isso me basta.
Não se apagam cicatrizes
Elas não me doem mais
Continuo com mais de cem quilos, mas desde que parei de tentar ressignificar tudo, estou mais leve — quase uns 30 kg.
Vejo fotos da minha infância. Aquela criança não existe mais.
Compreendo o agora, observo o amanhã. Isso me basta.